quarta-feira, agosto 06, 2008

A participação das mulheres na eleição municipal

A importância das mulheres na política volta e meia retorna ao debate. A cota para candidaturas femininas não é preenchida por nenhum partido político, sem exceção. Os partidos, de maneira geral, são considerados como ambientes “machistas”. Não vou entrar nessa discussão mais profundamente, mas algo não está dando certo na política de cotas femininas para lançamento de candidaturas pelos partidos. Não é objetivo deste post discutir as possíveis razões da suposta baixa participação das mulheres nos espaços formais da política (executivos e legislativos). O que vamos falar é sobre o florescimento de candidaturas femininas competitivas em algumas grandes capitais do país – Fortaleza, Natal, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre. São candidaturas com chances de vitória, mesmo que algumas ou a maioria não obtenham o sucesso de chegar lá, já se percebe pelas primeiras simulações que são candidaturas que irão dar muito trabalho a seus adversários.

Na região Nordeste, duas capitais apresentam candidaturas femininas competitivas. Em Natal, duas candidatas disputam preferência do eleitorado: Micarla de Souza (PV) e Fátima Bezerra (PT). A candidata do PV aparece como virtual vencedora no primeiro turno, seguida de longe pela então candidata petista. Na capital cearense, a disputa está embolada entre três principais candidatos, sendo duas candidaturas femininas: a atual prefeita Luzianne Lins (PT) e a ex-esposa de Ciro Gomes, Patrícia Saboya (PDT). Na cidade, os comentários é que a disputa seja entre a “lôra” (Luzianne) e a “morena” (Patrícia). Pelos índices de rejeição de Moroni Torgan (DEM), mesmo que este passe para o segundo turno, dificilmente vencerá a eleição contra a candidata escolhida.

Na região sudeste, três capitais apresentam candidatas competitivas para o Executivo Municipal: Marta Suplicy (PT), em São Paulo; Jandira Fegalhi (PC do B), no Rio de Janeiro; e Jô Moraes (PC do B), em Belo Horizonte. São candidaturas fortes, com chances de vitórias, mas que terão que enfrentar adversários com máquinas eleitorais fortes. A maior desvantagem terá a candidata Jô Moraes em Belo Horizonte, que enfrentará uma coligação ampla, e que reúne o apoio de lideranças políticas de peso (Aécio e Pimentel), tendo pouco tempo de televisão e um financiamento bem menor. Jandira Fegalhi no Rio enfrenta o desafio de passar para o segundo turno. Caso confirme uma disputa entre ela e o senador Marcelo Crivella (PRB), a candidata se beneficiará da forte rejeição do adversário.

Em São Paulo, a grande disputa é entre Marta (PT) e Alckmin (PSDB). Mesmo com maior tempo de televisão, o prefeito Gilberto Kassab (DEM) está praticamente fora do páreo. Todavia, sua candidatura pode ser auxiliar para o candidato do PSDB, na medida em que o prefeito dirija seus ataques à candidata petista. Se a lógica fosse puramente eleitoral, Kassab deveria partir para cima de Alckmin, pois disputam mesma faixa do eleitorado. Porém, é esperado que prevaleça o bom entendimento entre o DEM e o PSDB, o que favorece o candidato do PSDB. Nesse sentido, a candidata petista terá pela frente duas candidaturas contra seu projeto de retornar à prefeitura paulista. De qualquer forma, Marta Suplicy é um nome certo para o segundo turno.

No sul do país, as candidaturas de Maria do Rosário (PT) e Manuela Ávila (PC do B) em Porto Alegre fecham o círculo de candidaturas femininas competitivas nessa eleição municipal. As duas candidatas disputam a preferência do eleitorado para a passagem para o segundo turno contra o atual prefeito e candidato à reeleição José Fogaça (PMDB). Este não está garantido no segundo turno, mas dificilmente não estará lá. Todas as simulações de segundo turno mostram grande vantagem tanto de Manuela quanto de Maria do Rosário contra o atual prefeito. Isso é sinal de que provavelmente teremos uma prefeita na capital gaúcha a partir do próximo ano. Ademais, é bom ressaltar a candidatura de Gleisi Hoffmann (PT), esposa do ministro do Planejamento Paulo Bernardo, que tenta impedir a vitória de Beto Richa (PSDB) no primeiro turno. Dificilmente o atual prefeito não seja reeleito, mas a candidata petista tem tudo para estragar sua festa antecipada e levar a eleição para um segundo turno.

O sucesso de candidaturas majoritárias em diferentes localidades do país sugere que o eleitor, em média, não deve ser classificado como “machista” de forma simplória. Quando aparece uma candidata que apresenta um projeto que agrada o eleitor, este tende a escolher a candidata para seu voto. É claro que existem homens que não votam em mulheres, mas o contrário também existe. Ademais, as pesquisas eleitorais com algumas candidatas muitas vezes mostram que elas recebem sistematicamente mais votos do eleitor masculino que das eleitoras do mesmo sexo. É o caso de Marta Suplicy (PT), Jô Moraes (PC do B) e Jandira Fegalhi (PC do B). Mas esse também é o caso de Lula e outros políticos. A meu ver, a explicação está mais ligada a um conservadorismo maior das mulheres, que tendem a apresentar um voto com perfil mais conservador. Ou seja, a influência do sexo na decisão de voto é baixo, não impedindo o sucesso de uma candidatura feminina majoritária.

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