quarta-feira, março 05, 2008

Hillary interrompe seqüência de vitórias de Obama; McCain obtém a indicação republicana

Não é a toa que o dia de ontem está sendo chamado de mini-superterça. Tiveram prévias em quatros estados, sendo dois com grande número de delegados. A disputa foi emocionante no lado democrata. O primeiro resultado divulgado foi Vermont, um pequeno estado, com vitória de Barack Obama. A pré-candidata democrata interrompeu a seqüência de vitórias do rival vencendo em Rhode Island. Um estado também pequeno com poucos delegados, mas a diferença foi significativa. À noite, confirmou-se o favoritismo de Hillary em Ohio. As pesquisas de boca-de-urna deram a ela a vitória. E para a noite ser completa, Hillary acabou superando Obama também em Texas, onde as pesquisas nos últimos dias estavam dando leve vantagem de Obama. Com três vitórias seguidas, houve uma interrupção na onda da “obamania”.

No lado republicano, Jonh McCain venceu nos quatros estados e com a desistência de Mike Huckabee obtém a indicação republicana. É um dia histórico para McCain, que meses atrás era considerado carta fora do jogo. No total, McCain ficou com 1.226 delegados, contra 251 do seu rival republicano. Só a teimosia mantinha a candidatura de Huckabee no páreo, pois não apresentava qualquer chance.

As vitórias de Hillary mantêm a disputa pela indicação democrata. O movimento de crescimento da campanha de Obama não é o mesmo. O melhor da “obamania” se passou. Hillary obtém fôlego para as próximas primárias: Wyoming, no dia 8, Mississippi, no dia 11, e a realmente importante, Pensilvânia, no dia 22 de abril.

A senadora ainda tem desvantagem no número de delegados. Segundo a CNN, Obama mantém a vantagem, com 1.451 delegados (incluindo 194 super delegados), contra 1.365 de Hillary (incluindo 238 super delegados). Como são 800 super delegados, faltariam computar os votos de muitos super delegados. Hillary, no entanto, precisa vencer outras primárias importantes para manter viva sua candidatura. A mais importante delas é com certeza Pensilvânia.

A seqüência de vitórias de Hillary tem explicações na agenda negativa que dominou a campanha Obama nos últimos dias. A primeira delas foi a interferência canadense. Obama disse ao eleitor do estado de Ohio que era contra o Nafta, o acordo de livre comércio entre EUA, Canadá e México assinado no governo de Bill Clinton. Ohio é um dos estados mais prejudicados com o Nafta, portanto, muito impopular por lá. Porém, um memorando do seu principal assessor econômico para diplomatas canadenses afirma que era conversa de campanha, que não deveriam se preocupar. O problema é que o memorando vazou, intencionalmente ou não. Inicialmente, a campanha do candidato negou a existência do memorando. Depois, alegou que o que fora dito não era fiel ao conteúdo do memorando. Ou seja, a campanha cometeu um grave erro, e justamente naquilo de mais precioso para o eleitorado de Ohio.

Obama também teve que enfrentar denúncias contra Tony Rezko, investidor imobiliário de Illinois, e que levantou fundos para sua campanha. O investidor começou a ser julgado por tráfico de influência e corrupção. A situação é desconfortável para Obama. Além disso, Obama e a mulher de Rezko compraram no mesmo dia e na mesma quadra duas mansões vizinhas. Obama pagou preço abaixo do valor de mercado, e ainda comprou parte do terreno da mulher de Rezko. Não há qualquer prova de ilegalidade no negócio de Obama, e nenhuma acusação contra Rezko envolve Obama. Mas é uma agenda ruim para a campanha.

Finalmente, Hillary exibiu um comercial de televisão explorando o medo dos eleitores. Trata-se de anúncio de telefone, exibido no Texas. O anúncio mostrava um lar americano e um quarto com crianças dormindo. Mas o anúncio destacava que longe daquela imagem de tranqüilidade, às 3h da manhã, algo de grave havia acontecido em alguma parte do mundo e que uma ligação de emergência havia sido feita para a Casa Branca. O argumento era quem é mais preparado para responder a crises nacionais? Hillary por ter uma imagem mais durona e experiente, saiu-se bem na foto. É um velho truque das campanhas eleitorais americanas. Nas primárias de 1984, Walter Mondale usou o mesmo truque contra Gary Hart. Mondale era veterano de guerra e obteve sucesso na indicação democrata, mas teve de enfrentar Ronald Reagan, com uma imagem muito mais forte na segurança. O resultado é de conhecimento de todos.

O argumento de Obama é que Hillary quando teve oportunidade de responder a uma crise votou a favor da guerra do Iraque. Ele, ao contrário, foi contra. É uma tese racional, mas a campanha é sempre dominada por fatores emocionais. Argumentos racionais pouco valem, e a imagem de Hillary é melhor quando se trata em segurança nacional. A imagem de obama está associada à esperança e a possibilidade de mudança na sociedade americana. O embate foi importante para Hillary virar o jogo contra Obama no Texas. Porém, numa campanha presidencial, a segurança é o forte de Jonh McCain e do seu partido republicano. Trazer o tema segurança para o centro de debate não é bom para os democratas, pois enfrentarão um herói de guerra.

É claro que a história nem sempre se repete. E comparar campanhas com históricos tão díspares não é recomendável. Mondale teve que enfrentar ninguém menos que Ronald Reagan, um governo bem avaliado na época. Os democratas terão que enfrentar apenas o veterano John McCain. MacCain tem pontos fracos, como a rejeição ao governo Bush e o fato de não ter qualquer domínio em economia, justamente no ano que a economia americana está em crise. Mas os democratas flertarem com segurança nacional é algo como “gostar do perigo”. Mesmo porque o ideal é explorar os pontos fracos do adversário, não o contrário. Lembrando a campanha de Bill Clinton, “é a economia, estúpido”!

Nota: Hillary Clinton sugeriu hoje, quarta-feira, candidatura conjunta com o senador Barack Obama. Eleitores nas prévias decidiriam quem encabeçaria a chapa presidencial e consequentemente seria o candidato à Presidência dos EUA e o vice pelos democratas. A declaração foi feita depois da confirmação da nomeação do John McCain pelo partido republicano.

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