sábado, fevereiro 09, 2008

Jornalismo partidário na batalha dos cartões corporativos

Foi o grande cientista político italiano Antônio Gramsci que classificou a imprensa livre como o grande partido de direita do Ocidente. Pode-se dizer que a classificação é simplista. O que não pode ser dito da grande imprensa brasileira é que ela seja apartidária e neutra. É complicada a tarefa de exigir imparcialidade e equilíbrio da mídia. Quem sabe seja seu direito fazer suas opções, inclusive políticas. Ou será que a sociedade é que tem direito de exigir jornalismo de qualidade e apartidário. A resposta não é simples. O problema é que a mídia brasileira se declara imparcial e apartidária, mas ao mesmo tempo faz suas opções políticas (sem contar para o seu público). Assim, sua cobertura só pode resultar em mau jornalismo. É o que se viu na cobertura sobre os cartões corporativos.

Se a mídia não é neutra nem apartidária, é natural que os descontentes queiram criticá-la. Mas criticar a mídia no Brasil é sempre sinônimo de intolerância, autoritarismo, tentativa de calar a imprensa ou qualquer coisa desse tipo. Quer dizer que não tenho direito de ter opinião divergente daquilo que a mídia publica? A divergência também é seu monopólio? Não dá para aceitar isso. Não posso exigir imparcialidade da mídia, porém reservo-me o direito de não gostar de seu trabalho. É assim mesmo, a mídia faz seu trabalho, os críticos metem o pau e acabou. A vida continua. Sem essa de querer calar a boca dos críticos da mídia.

A imprensa paulista fingiu uma semana que não havia abusos no uso dos cartões do governo paulista. Pressionada pela blogsfera, principalmente após a divulgação de dados pelo Conversa Afiada, de Paulo Henrique Amorim, a Folha de São Paulo e o Estadão tiveram que render ao óbvio e publicar os gastos do governo paulista do PSDB. Porém, não conseguiram disfarçar sua parcialidade ou seu jornalismo partidário. No caso do governo federal, a oportunidade para as explicações quase não foi dada. Toda despesa era apresentada como ilegítima, sendo algumas matérias flagrantemente mentirosas. Nos cartões do governo Serra, o que não faltam é espaço para explicações. O governo Serra explicou algumas denúncias, deixando de lado um monte de outras denúncias onde estavam as maiores suspeitas, sem quaisquer contestações dos jornais. Aliás, até parece que o governo paulista é que escolheu as despesas suspeitas e depois forneceu explicações sobre elas. Beira o ridículo.

Além disso, destacaram-se as declarações de Serra jogando a culpa no PT pelas denúncias. Como disse em outro post, o PSDB sempre foge das explicações com essa história de ser o PT tentando confundir as coisas. O governo é do PSDB, mas quem deve explicações é o PT. O argumento não é válido. É como se o Lula falasse que o PSDB é que devesse explicar os gastos dos cartões corporativos federais. O problema é que não foi o PT quem fez as denúncias. Foi a blogsfera e, pressionados, os jornais paulistas que denunciaram abusos no uso dos cartões corporativos do governo Serra. Ou seja, o governo Serra não explica nada e ainda quer sair como vítima do episódio.

Outra bobagem é essa história de que os cartões do governo são diferentes do governo federal. O problema é a despesa em si, se são legítimas ou não. Os cartões de débito do governo Serra permitem realizar gastos ou sacar dinheiro em caixa, é o que importa. A grande diferença é que parece que há descontrole maior no governo paulista, pois são mais de 42 mil cartões. Cadê a mídia que fez um alvoroço com os 11 mil cartões federais? E também, se R$ 75 milhões do governo federal é um absurdo, o que dizer de R$ 108 milhões do governo Serra? Por que não informam que a despesa com suplementos de fundos caiu fortemente no governo atual com a disseminação dos cartões corporativos? Perguntas sem respostas. Sobram ilações.

O que ficou claro até o momento é que os cartões corporativos são mais eficientes para a realização de despesas dessa natureza e que há bem maior transparência no governo federal do que nos governos estaduais. Digo, todos os governos estaduais, não só os do PSDB. Na verdade, o governo Lula tem mérito, pois reduziu as despesas com suplementos de fundos e deu maior transparência. Tem problemas de gestão, certamente. Só que nesse caso, o governo Lula está à frente de seus críticos na oposição política. Onde está a incompetência e a corrupção que a mídia tenta vender? Desvios devem ser investigados, mas também precisa que as outras esferas (estaduais e municipais) adotem a transparência do governo Lula. Se desejarem fazer um bom jornalismo, que publiquem todas as informações e exijam transparência de todos. Basta de jornalismo partidário. A sociedade merece uma mídia melhor.

Nenhum comentário: